segunda-feira, maio 07, 2007

Pablo Neruda (1904-1973)

O Mar e os Sinos

Chove...

Chove
sobre a arena, sobre o tecto
o tema
da chuva:
as largas gotas da chuva lenta
caem sobre as páginas
do meu amor eterno,
o sal de cada dia:
regressa chuva ao teu ninho anterior,
regressa virada ao passado:
hoje quero o espaço branco,
o tempo de papel para uma rama
de rosal verde e rosas douradas:
algo da infinita primavera
que hoje esperava, com o céu aberto
e o papel hesitante,
quando voltou a chuva
a tocar tristemente
a janela,
depois a bailar furiosa
sobre o meu coração e o tecto,
reclamando
o seu lugar,
pedindo-me um copo
para a encher mais uma vez de agulhas,
de tempo transparente,
de lágrimas.
Pablo Neruda