sexta-feira, abril 13, 2007

Rainer Maria Rilke (1885 - 1926)

Antes da chuva de verão

Repentina, de todo o verde em teu redor,
algo que não conheces desaparece;
sentes como se aproxima da janela,
em silêncio.

Do arvoredo vizinho
sai o canto urgente de uma tarambola,
lembrando S. Jerónimo:
tanta solidão e paixão vêm
daquela única voz, que reza o dilúvio concedido.

As paredes, com os antigos retratos,
afastam-se de nós, cuidadosamente,
como se não devessem ouvir o que dizemos.

E reflectidos dos tapetes gastos;
um frio, incerto raio de luz daquelas
horas longas de infância que tanto temes.
Rainer Maria Rilke