Rainer Maria Rilke (1885 - 1926)
Antes da chuva de verão
Repentina, de todo o verde em teu redor,
algo que não conheces desaparece;
sentes como se aproxima da janela,
em silêncio.
Do arvoredo vizinho
sai o canto urgente de uma tarambola,
lembrando S. Jerónimo:
tanta solidão e paixão vêm
daquela única voz, que reza o dilúvio concedido.
As paredes, com os antigos retratos,
afastam-se de nós, cuidadosamente,
como se não devessem ouvir o que dizemos.
E reflectidos dos tapetes gastos;
um frio, incerto raio de luz daquelas
horas longas de infância que tanto temes.
Rainer Maria Rilke